Subsidio Formativo | Espiritualidade Jesuíta

     

I Subsidio Formativo 

Dom Antonio Ferraz Cardeal Chiavi, SJ

Espiritualidade Jesuíta: Um Caminho para Encontrar Deus em Todas as Coisas

    A espiritualidade jesuíta, nascida da profunda experiência de conversão de Santo Inácio de Loyola e cultivada há mais de 480 anos pela Companhia de Jesus e por inúmeros homens e mulheres leigos, religiosos e clérigos em todo o mundo, é um caminho de encontro com Deus na vida concreta. Trata-se de uma espiritualidade que não separa oração e missão, silêncio e compromisso, vida interior e transformação do mundo. Pelo contrário: integra tudo isso numa profunda busca de sentido, liberdade interior e serviço ao próximo.

    Inácio compreendeu, a partir de sua própria vivência, que a vida cristã deveria conduzir ao “sentir e saborear internamente as coisas de Deus” (LOIOLA, 2000, n. 2), ou seja, a uma experiência viva de encontro com Cristo que transforma todas as dimensões do ser. Daí nasce a proposta de uma espiritualidade encarnada e ativa, cuja meta é, como expressa o lema inaciano, “ad maiorem Dei gloriam” — “para a maior glória de Deus”.

Origem e intuição fundamental

    Santo Inácio de Loyola, um jovem fidalgo basco do século XVI, foi profundamente tocado por Deus após um grave ferimento na perna durante a Batalha de Pamplona, em 1521. Durante sua longa convalescença, lendo a vida de Cristo e dos santos, percebeu que os pensamentos que o ligavam a Deus geravam paz, consolação e alegria duradoura — enquanto os projetos mundanos lhe deixavam vazio e inquieto. A partir desse discernimento espiritual inicial, desenvolveu um método de oração e escuta interior que resultaria nos célebres Exercícios Espirituais.

    A grande intuição inaciana é a de que Deus pode ser encontrado em todas as coisas: na rotina, no trabalho, nas dores e alegrias, no serviço, nos estudos, nos encontros e até mesmo nas contradições do mundo. Inácio escreve: “O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor, e, mediante isso, salvar sua alma” (LOIOLA, 2000, n. 23). Essa orientação espiritual conduz o jesuíta — e todo aquele que se inspira nessa tradição — a ser um contemplativo na ação, alguém que vive em constante comunhão com Deus sem precisar sair do mundo.

    Como explica Pedro Arrupe, Superior Geral da Companhia de Jesus por quase duas décadas, a espiritualidade inaciana é profundamente apostólica: “A oração deve tornar-se uma atitude habitual. Tudo pode e deve ser oração: trabalho, estudo, repouso. Tudo deve conduzir a Deus” (ARRUPE, 1981, p. 75).

    Portanto, viver a espiritualidade jesuíta é integrar ação e contemplação, discernimento e decisão, liberdade interior e obediência à missão. Como recorda o Papa Francisco, também ele um jesuíta: “O tempo é superior ao espaço. [...] O Espírito atua na história. [...] É na realidade que Deus se manifesta” (FRANCISCO, 2013, n. 222-223).


Referências Bibliográfica

ARRUPE, Pedro. Raízes da espiritualidade inaciana. São Paulo: Loyola, 1981.

FRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium: Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulinas, 2013.

LOIOLA, Inácio de. Exercícios Espirituais. Tradução de Mário da Gama Kury. São Paulo: Loyola, 2000.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem